Os constantes reajustes da Petrobras no valor da gasolina, a entressafra da cana-de-açúcar e a consequente menor oferta de produto no mercado elevaram os preços do etanol em Araçatuba para patamares nunca antes vistos, chegando a R$ 3,299 nos postos da cidade. Até então, o produto era vendido a, no máximo, R$ 2,99, o que representa um aumento de 10%.
As altas no preço do etanol são comuns de dezembro a abril, quando os valores começam a se normalizar com a retomada a moagem nas usinas. No entanto, os preços nunca haviam chegado aos níveis atuais. Apenas um posto em Araçatuba comercializa o combustível a R$ 2,699. Trata-se do Setee, localizado na rua Aguapeí.
Nas usinas, o preço do etanol segue em alta desde o dia 15 de janeiro, em função da queda nos estoques por causa da entressafra da cana, que vai de dezembro a abril. No dia 15 do mês passado, o valor do produto nas unidades produtoras era de R$ 2,0737, sem impostos, conforme o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP. Na cotação dessa sexta-feira (12), o biocombustível estava a 2,2474, aumento de 8,37%.
Para piorar, o preço do produto sofre influência da gasolina, que tem 27% de sua composição de etanol. Desde a virada do ano, a gasolina sofreu três altas pela Petrobras nas refinarias, com mais de 20% de aumento. No dia 18 de janeiro, a estatal aumentou o derivado do petróleo em 7,6%, e no dia 26 do mesmo mês, houve um novo acréscimo de 5%. O último aumento foi no dia 8 de fevereiro, de 8%.
Em Araçatuba, a gasolina é vendida por até R$ 4,899 – o menor preço é de R$ 4,099, também encontrado no posto Setee.
Custo
Os revendedores explicam que, hoje, o custo do litro do etanol para eles é de R$ 3,00. “Não dá para vender a menos do que isso, não tem milagre”, disse um comerciante do setor que não quis se identificar. No caso da gasolina, segundo ele, o custo é de R$ 4,40 o litro. “Quem vende a um valor menor que isso deve ter comprado um estoque muito grande antes do aumento ou está no vermelho”, afirmou.
Tendência
A previsão, segundo os comerciantes do setor, é que os preços do etanol apresentem tendência de queda a partir de abril, quando as usinas voltam a produzir, ou quando a gasolina parar de subir, porque os consumidores acabam migrando para o derivado da cana na hora de encher o tanque. Com o aumento do consumo e a redução de oferta, os preços continuam subindo.
No entanto, o valor da gasolina segue o preço do petróleo no mercado internacional, que está em alta, diante da previsão de manutenção da oferta restrita pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e Rússia.
Consumo
Para os consumidores, que não tiveram aumento na renda, as altas vêm como uma bomba no orçamento já achatado diante de outros acréscimos nos preços, como o dos alimentos.
“Vou ter que voltar a andar de bicicleta”, diz o construtor Alcides dos Santos, 51 anos. Ele conta que enchia o tanque uma vez por semana, mas com o aumento nos preços, não consegue mais.
ICMS
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encaminhou ao Congresso Nacional nessa sexta-feira (12) um projeto de lei complementar que propõe mudanças no cálculo do ICMS sobre os combustíveis.
A proposta prevê a cobrança do imposto nas refinarias, e não mais no momento da venda no posto de gasolina – o valor na bomba é maior que nas refinarias.
Além disso, o ICMS passaria a ter uma alíquota única em todo o País; hoje, cada estado pratica uma porcentagem própria. Com isso, o imposto não irá variar mais em razão do preço do combustível ou das mudanças no câmbio.