Advogados já condenados por ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital) movimentaram juntos, em suas respectivas contas bancárias, R$ 14 milhões no período de janeiro de 2014 a abril de 2017, sem declarar a origem das quantias. A suspeita é a de que eles tenham cometido o crime de lavagem dinheiro a mando da maior facção criminosa do país.
A informação consta em documentos da investigação conduzida pela Polícia Civil paulista, cujo conteúdo o UOL teve acesso exclusivo. Técnicos da Superintendência da Receita Federal em São Paulo e do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro, do Departamento de Inteligência da Polícia Civil paulista, rastrearam as contas bancárias de todos os investigados.
Doze advogados apresentaram em suas contas bancárias movimentações em crédito incompatíveis com o patrimônio declarado. Uma advogada da zona oeste paulistana é acusada de ter movimentado R$ 2,9 milhões.
Segundo a Polícia Civil, os créditos em nome dela superaram em 25 vezes os rendimentos declarados, evidenciando incompatibilidade patrimonial. Nas contas bancárias de uma advogada de Birigui, acusada de cooptar o ex-vice-presidente do Condepe Luiz Carlos Santos para os quadros do PCC, foram rastreados créditos de R$ 1,5 milhão.
Os técnicos da Receita Federal detectaram um movimento de R$ 1,2 milhão na conta do marido de uma advogada de Campinas. Para a Polícia Civil, ele foi usado como “laranja” pela mulher. Foram rastreados ainda R$ 1,2 milhão em nome de um advogado com escritório no Tatuapé, na zona leste da capital paulista, e R$ 1 milhão nas contas de um advogado de Santos, na Baixada Santista. Os demais profissionais da advocacia investigados apresentaram movimentações bancárias inferiores a R$ 1 milhão. Os valores variavam entre R$ 774 mil a R$ 956 mil
Operação Ethos
Os advogados já haviam sido indiciados em inquérito policial em fevereiro de 2017 e até hoje o processo tramita na 1ª Vara Criminal de Presidente Venceslau. A cidade ficou conhecida por concentrar membros da cúpula do PCC até que eles fossem transferidos para o sistema prisional federal, no começo de 2019 – entre eles, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, considerado o principal líder da facção. Mesmo assim, integrantes de segundo escalão do grupo criminoso continuam a cumprir pena nos presídios locais.
Dos 12 indiciados, 11 já foram presos e condenados na ação penal da Operação Ethos, deflagrada em novembro de 2016. Entre os condenados estão duas advogadas de Birigui, uma delas a que apresentou movimentação bancária incompatível, conforme relatório da Polícia Civil de São Paulo.
Eles foram condenados sob a acusação de integrar a célula “sintonia dos gravatas”, como é conhecido o braço jurídico do PCC.
Para o Ministério Público, as condenadas faziam parte de uma célula jurídica do PCC, formada a partir do cooptação de dezenas de advogados. O grupo agia no comando de um esquema de pagamentos de propinas a agentes públicos e integrantes do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe). As informações são do site UOL e do MP de SP.