O prefeito de Glicério (SP), Ildo de Souza (PSDB), usou suas redes sociais para atacar fiéis e simpatizantes de religiões de matriz africana. Por causa disso, será investigado pela Polícia Civil por possível intolerância religiosa ou pela prática de induzir ou incitar a discriminação ou preconceito contra religião, cujos crimes têm penas de reclusão de um a três anos e multa.
O caso teve início no domingo (10), quando o prefeito postou, em sua página no Facebook, um texto no qual mencionava “macumbeiros que têm pacto com o diabo”, prosseguindo com ofensas e xingamentos. (Veja imagens abaixo).
O professor Paulo Rodrigues Javarezzi, 38 anos, de Glicério, que é umbandista, viu a postagem e procurou a polícia para registrar um boletim de ocorrência.
“Espero que ele seja punido. Boa parte dos moradores da cidade, que são inclusive eleitores dele, como eu, são de religiões de matriz africana. Não podemos tolerar isso”, afirmou.
O município de Glicério tem pouco mais de 4 mil habitantes e fica a 35 km de Araçatuba (SP). A cidade ficou conhecida nacionalmente por ser a terra natal do ex-presidente Jair Bolsonaro (2018-2022), que hoje está inelegível.
ASSUSTADO
Javarezzi conta que ficou assustado com as ofensas do prefeito e chegou a responder sua postagem, dizendo que não cabe a um homem público levantar bandeira de ódio. Ildo de Souza, no entanto, continuou com os ataques em comentários na própria rede social.
Em um deles, afirmou: “Nunca vi macumbeiro fazer o bem. Macumba se for religião não deve vir de Deus. Me desculpem os macumbeiros que serviu (sic) de carapuça, mas quem faz macumba é gente do mal”.
SEM RETORNO
Não se sabe o que motivou os ataques do prefeito. A reportagem do RP10 procurou saber por quê Ildo de Souza escreveu e postou o texto, mas, na Prefeitura, a informação é de que ele estaria em reunião, e não retornou ao pedido de entrevista.
Tudo indica, no entanto, que o prefeito, que está em seu segundo mandato, estava irritado com algum desafeto político, haja vista a sequência do comentário feito por ele no Facebook:
“Se não gosta de mim, é um favor que faz ficar longe, até porque não gosto de me encostar em diabos. E no mais, quem perdeu a teta deve mesmo defender coisas do diabo, porque aqui era coisa do diabo mesmo. A verdade dói e quanto mais pobre de espírito mais amigo do capeta é”.
COMISSÃO ESPECIAL DE INQUÉRITO
A denúncia contra o prefeito chegou à Câmara de Vereadores de Glicério, que deverá criar uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar a possível prática de intolerância religiosa ou incitação à discriminação e ao preconceito religioso por parte do prefeito, que pode ter o mandato cassado, caso seja comprovada a infração.