A pandemia de Covid-19 obrigou a implementação de novos hábitos em praticamente todo o planeta. O distanciamento e o isolamento social, considerados meios eficientes para conter a proliferação do vírus, fez com que adultos e crianças criassem uma nova rotina.
O home office e as aulas on-line, antes restritos a uma pequena parcela da população, agora se tornaram comuns a praticamente todo mundo.
O problema é que a mesma tecnologia que ajuda a manter o trabalho e os estudos em dia, também pode provocar ou agravar distúrbios oculares. As crianças, que antes tinham tablets, computadores e smartphones como uma fonte de diversão, passaram a utilizar esses aparelhos também para assistir aulas, além de intensificar a comunicação com parentes e amigos, aumentando o tempo que passam diante das telas.
Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o uso constante dessa tecnologia de comunicação está agravando uma condição que já pode ser considerada pela entidade uma epidemia globalizada: a miopia.
Segundo a OMS, em 2050, cerca de 52% da população mundial terão desenvolvido a doença. E apesar de o relatório não ter mostrado ainda um quadro alarmante para o Brasil, ele destaca que a prevalência da miopia e da alta miopia está avançando no país mais do que a média global.
Enquanto no âmbito mundial estima-se que entre 2020 e 2050, desenvolverão a miopia aproximadamente 596,51 milhões de pessoas, no Brasil os números projetam de 6,8 milhões casos para 12,9 milhões, ou seja, aumento de 89%.
De acordo com a oftalmologista Ana Carolina Capelanes, do Hospital do Olho de Araçatuba (SP), os oftalmologistas estão receosos que a necessidade de adaptação dos hábitos de trabalho, estudo e diversão, motivada pelo distanciamento e isolamento impostos pelo combate à Covid-19, possa acelerar esse processo.
Ela ressalta que a miopia elevada pode causar problemas graves na mácula, descolamento de retina, glaucoma e catarata. “Significa que a geração de hoje pode ter maior incidência dessas comorbidades no futuro, caso não haja cuidados efetivos sobre o assunto”, diz.
Segundo a OMS, há confirmação de que em Taiwan, Hong Kong e Cingapura, cerca de 90% dos adultos jovens são míopes e que essa incidência estaria relacionada também ao uso excessivo da visão de perto causada pelo uso de equipamentos eletrônicos.
A oftalmologista acrescenta que já foi comprovado que a miopia está relacionada a causas multifatoriais, entre elas a genética, e também a causas ambientais, como o tempo do uso excessivo da visão de perto e a quantidade de atividade externas – quanto mais tempo a criança passa ao ar livre, menor a progressão da doença.
Ana Carolina acrescenta ainda que os adultos também podem ter problemas oculares com o uso exagerado dos computadores. “Ficar muito tempo sem piscar, por conta da fixação nas telas, pode evoluir para olho seco. Quem usa óculos multifocais pode desenvolver problemas na coluna cervical, pois a tela um pouco mais alta implica em movimentos repetidos de levantar a cabeça constantemente, provocando uma lesão local. Até as frequentes cefaleias podem ser consequência de astigmatismo e hipermetropia não corrigidos ou pelo demasiado uso da visão de perto”, alerta.
“As conversas entre oftalmologistas e pacientes são o elemento mais importante para estabelecer o curso dos tratamentos oftalmológicos nas circunstâncias atuais. Assim, qualquer mudança na visão deve ser relatada ao seu oftalmologista”, orienta a médica.