O governador João Doria (PSDB) prorrogou a quarentena no Estado de São Paulo por mais 15 dias, de 8 a 22 de abril. Com isso, o comércio dos 645 municípios paulistas deverá se manter fechado. O anúncio foi feito no início da tarde desta segunda-feira (6) durante entrevista coletiva no Palácio do Bandeirantes. O isolamento social é uma medida sanitária preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar o aumento de casos de covid-19, transmitida pelo novo coronavírus.
“Vamos continuar agindo com base na ciência e medicina. Depois de salvar vidas, vamos salvar a economia”, afirmou Doria, ao anunciar a continuidade do isolamento social. “Peço a todos que fiquem em casa”, enfatizou.
O governador que o Estado disse que poderá usar o poder de polícia caso haja aglomeração de qualquer tipo em qualquer cidade paulista. “Esta é uma deliberação que será publicada pelo Diário Oficial e deverá ser seguida para a proteção das vidas”. O governador pediu aos prefeitos que sigam a determinação de manter a quarentena e de dissipar as aglomerações.
TAXAS DE INFECÇÃO
O diretor do Butantan, Dimas Covas, que mostrou o impacto das medidas em termos de taxa de infecção. O distanciamento social produz 25% na redução do contágio, assim como as escolas fechadas e suspensão de eventos públicos.
Ele defendeu uma redução da mobilidade para reduzir a taxa de transmissão do vírus. “É importante as pessoas entenderem a importância do afastamento social para reduzir a taxa de contaminação. Temos que aumentar a aderência das pessoas ao isolamento”, disse.
CASOS
O diretor do Butantan disse ainda que, sem o isolamento social, a projeção é de que, até o dia 13 de abril, o Estado de São Paulo teria 150 mil casos de covid-19. Com as medidas, a projeção é chegar a 20 mil casos até esta data. Em relação aos óbitos, sem o isolamento, haveria 5 mil mortes até 13 de abril, mas com afastamento, espera-se chegar aos 1,3 mil óbitos no período.
O Estado de São Paulo tem, hoje, 4.620 casos e 265 óbitos em São Paulo, que correspondem, respectivamente, a 41,5% e 56% dos números do Brasil, que possui 11.130 casos de covid-19 e 486 óbitos, segundo o secretário de Estado de Saúde, José Henrique Germann Ferreira.
David Uip, chefe do Centro de Combate à covid-19, que teve a doença e estava em isolamento social, também participou da coletiva de imprensa e deu o seu depoimento. “Foi um sentimento muito angustiante dormir e não saber como iria acordar. Não é fácil ficar isolado. É de extremo sofrimento, mas absolutamente fundamental. Eu tive que criar um David mais humilde e sabendo os limites da vida”.
Segundo ele, o afastamento está possibilitando aos hospitais públicos e privados se estruturarem. “Só vão sobreviver aqueles que forem atendidos em hospitais bem estruturados, com equipe médica bem treinada”, avaliou.
APELO
O governador João Doria também fez um apelo aos empresários para que não demitam seus funcionários. “Por favor, façam todo o possível para não demitir. Compreendo a dimensão, a dificuldade num momento como este. Agora é a hora de vocês darem a retribuição social e ter a capacidade humana de reconhecer que sem seus funcionários não conseguiram chegar aonde chegaram. Exerçam sua responsabilidade social e seu lado humanitário. Lembrem-se daqueles que precisam do salário para sobreviver”, disse o governador.
Doria disse que no momento de crise, é uma oportunidade de ouvir a palavra da ciência e se afastar dos que pregam ódio e atitudes que não respeitam o interesse maior, que é salvar vidas. Ele citou que a OMS preconiza o isolamento social como forma de salvar vidas. “Será que a ciência mundial está errada? Será que a OMS está errada?”, questionou.
ATESTADOS DE ÓBITOS E CAIXÕES
O governador mandou mensagem para os que incentivam a vida normal em tempos de pandemia “Aqueles que me pressionam para que possamos agir contra os nossos princípios e contra os da medicina, eu pergunto: Vocês estão preparados apara assinarem os atestados de óbitos? Estão preparados para carregar os caixões? Vocês, que minimizam um crise gravíssima que estamos passando, vão enterrar as vítimas?”, questionou.
Ele também citou uma frase do papa Francisco: “Dinheiro tem que servir, não governar”. E completou: “Lucros podem esperar; a vida, não. O mundo quer proteger vidas e salvar pessoas”. Doria também citou o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia. “Joseph Stiglitz disse que a economia será devastada se não salvarmos as pessoas. Será que ele também está errado?”.