Com produtos em estoque, cancelamento de pedidos e sem fluxo de caixa, as indústrias de Birigui vivem uma crise sem precedentes. As demissões já atingiram mais de 4 mil trabalhadores, somente no mês de abril, nos setores calçadista e metalúrgico. A justificativa é que, com o fechamento do comércio, em função da quarentena para conter o avanço da Covid-19, as empresas não têm para quem vender e a produção foi suspensa.
O polo calçadista de Birigui tinha, até então, 300 empresas e empregava cerca de 14 mil trabalhadores. As mais afetadas sãs as de menor porte que produzem calçados. Pelo menos quatro delas fecharam as portas, conforme o Sindicato das Indústrias de Calçado e Vestuário de Birigui (Sinbi). É o caso da Sonho de Criança, que demitiu seus 300 funcionários e encerrou as atividades. Já a Finobel dispensou os trabalhadores de chão de fábrica e manteve apenas parte dos que atuam no setor administrativo.
O problema é que estas empresas trabalhavam na produção de calçados de inverno, sobretudo botas, para abastecer o comércio no período mais frio do ano. Algumas estão com produtos em estoque, mas os pedidos foram cancelados. “Tem muita indústria com matéria-prima para produzir, mas estes produtos não serão mais colocados no mercado diante deste cenário crítico”, afirma o presidente do Sinbi, Renato Ramires.
Para piorar a situação, a maioria dos produtos já entregues ao varejo, que não pode vender em função da proibição de abrir seus estabelecimentos, ainda não foi paga, pois 85% dos proprietários da loja pediram a prorrogação do pagamento por um prazo de 90 dias. “Sem fluxo de caixa, as empresas menores não têm condições de manter seus funcionários”, destaca Ramires.
As dispensas são tantas e em tamanha velocidade que até o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados enfrenta dificuldades em homologar as rescisões, segundo a presidente da entidade, Milene Rodrigues. “Infelizmente, vivemos um caos, com tanta gente perdendo o emprego”, disse.
As indústrias maiores, com mais fôlego financeiro para enfrentar a crise econômica que se instalou após a pandemia, direcionaram a fabricação para outros produtos, como máscaras laváveis e descartáveis, na tentativa de manter os empregos. Parte da produção, porém, é doada a Prefeituras, hospitais e instituições assistenciais.
REDUÇÃO DA JORNADA
Muitas delas, segundo o presidente do Sinbi, estão partindo para a redução da jornada de trabalho, com a diminuição dos salários prevista nas Medidas Provisórias números 935 e 936 do Governo Federal. Elas garantem a complementação de salários para os trabalhadores que têm suas cargas horárias e remunerações reduzidas por até três meses.
O benefício emergencial de preservação do emprego e da renda tem como base o valor mensal do seguro-desemprego a que os funcionários teriam direito caso fossem demitidos. As reduções podem ser de 25%, 50% e 70% que são negociadas a partir de acordos individuais e coletivos, conforme as faixas salariais dos trabalhadores.
A MP 936 também permite a suspensão do contrato de trabalho, por no máximo dois meses, com o pagamento de 100% do valor respectivo do seguro-desemprego.
“É uma forma manter a economia aquecida. Sabemos que a retomada não vai ser a curto prazo, e desta forma, as empresas conseguem um fôlego maior”, avalia Ramires.
METALÚRGICAS
A crise também impactou as indústrias metalúrgicas. A Metalmix, com 28 anos de atuação no mercado, demitiu, na última semana, 180 trabalhadores da linha de produção. Foram mantidos cerca de 20 colaboradores da parte administrativa e financeira, apenas, segundo o advogado da empresa, Lucas Astolphi.
Segundo ele, todos estão cumprindo aviso prévio, depois de ter ficado 15 dias em casa no primeiro período da quarentena, entre 24 de março e 7 de abril. “Durante este tempo, a empresa liberou os funcionários para ficarem em casa e manteve os seus salários neste período”, disse.
A Metalmix possui um mix de mais de cem produtos de utilidades domésticas, como fruteiras, mesas de passar roupa, escadas, cadeiras, dentre outros. Conforme Astolphi, as demissões foram necessárias porque muitos pedidos das lojas foram cancelados e os que não foram não têm como ser entregues, pois elas se encontram fechadas. “Não havia o que fazer na empresa”, argumentou.
Segundo ele, todos os trabalhadores estão cumprindo aviso prévio para receber o seguro desemprego e a expectativa é recontratá-los assim que a quarentena acabar. A empresa fornece produtos para todo o Brasil e grandes lojas, como Magazine Luiza e Lojas Cem.
Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Birigui (Sintrameb), o setor demitiu, até agora, 350 trabalhadores. Mais de 250 funcionários estão em férias coletivas e cerca de 700 trabalhadores tiveram a jornada de trabalho reduzida entre 25% e 50%, conforme prevê as medidas provisórias do governo.
“A todo momento chega proposta de acordo de empresa para redução de jornada de trabalho”, contou. Conforme ele, o setor metalúrgico emprega aproximadamente 15 mil trabalhadores. “A situação está bem crítica e atinge, principalmente, os funcionários de chão de fábrica, da linha de produção”, disse.