(FOLHAPRESS) – O estado de São Paulo confirmou nesta quarta-feira (28) a primeira morte por sarampo desde 1997, ano em que houve 23 óbitos em decorrência da doença.
A vítima é um homem de 42 anos, morador da zona leste da capital, sem registro de imunização. Segundo a secretaria municipal de Saúde, ele havia passado por cirurgia para retirada do baço, órgão do sistema linfático que ajuda na defesa do organismo. A morte foi registrada no dia 17.
De acordo com o Ministério da Saúde, foi o primeiro óbito registrado neste ano no país em decorrência da doença. Outra morte por suspeita de sarampo, em Pernambuco, está em investigação.
Segundo Solange Saboia, coordenadora de vigilância em saúde de São Paulo, a confirmação de mortes por sarampo precisa seguir protocolos internacionais.
A secretaria municipal diz que continuará com ações de bloqueio quando há casos suspeitos. Elas têm o objetivo de interromper a transmissão da doença e ocorrem na residência do paciente e em locais frequentados por ele. Neste ano já foram mais de 7.000 ações do tipo na cidade.
A secretaria estadual de Saúde diz que o estado tem 2.457 casos da doença confirmados, dos quais 67% (1.637) estão na capital. Em seguida no ranking, aparecem Santo André (126), Guarulhos (91) e Osasco (57). A secretaria municipal de Saúde confirma 1.637 casos.
A campanha de vacinação da secretaria municipal de Saúde contra o sarampo termina no sábado (31). Segundo a pasta, a cobertura vacinal de bebês chegou a 62,9%,. Entre as pessoas de 15 a 29 anos, chegou a 41,4%.
Na última semana, como a Folha revelou, Saboia afirmou que a capital só tinha estoque de vacinas contra a doença até esta segunda (26). O Ministério afirmou que anteciparia o envio de doses de rotina da vacina e de mais de 320 mil doses para reforço nas crianças.
O secretário de vigilância em saúde do Ministério, Wanderson Oliveira, afirma que a pasta avalia a situação na capital paulista e região metropolitana como uma emergência local em saúde pública. Não houve, porém, formalização desse status, o que caberia às autoridades locais.
São Paulo responde pela maioria dos registros de sarampo no país. Outros 12 estados apresentam surto ativo da doença. Dados de novo boletim divulgados nesta quarta apontam 32 casos confirmados de sarampo nesses locais: 12 no Rio de Janeiro, 5 em Pernambuco, 4 em Santa Catarina e 3 no Distrito Federal.
Goiás, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Piauí têm 1 registro cada um. Os casos foram registrados entre 2 de junho, data em que a pasta considera que foi iniciado um novo surto, e 24 de agosto.
O secretário do ministério diz que a análise do cenário aponta para uma tendência de estabilização do surto no país.
Segundo ele, isso ocorre devido ao avanço das estratégias de vacinação para conter a doença e o retorno do calor.
“As pessoas tendem a ficar com as casas mais abertas e mais ventiladas. O sarampo é uma doença respiratória, e ambientes fechados aumentam o risco de transmissão”, afirma.
O número de registros, no entanto, ainda deve crescer, já que é alto o número de casos em investigação. O último boletim aponta 10.855 casos suspeitos. Em média, 26% das suspeitas têm sido confirmadas.
Ainda segundo Oliveira, embora São Paulo lidere em número de casos, o avanço da doença em outros estados traz preocupação devido à menor cobertura vacinal nesses locais.
Na tentativa de conter o surto, o Ministério da Saúde passou a recomendar uma dose da vacina contra o sarampo a bebês de 6 meses a 11 meses e 29 dias. A faixa etária é considerada a mais vulnerável a casos graves e óbitos. A “dose zero” não substitui as doses do calendário nacional de vacinação.
Segundo Oliveira, a escolha de aplicar uma dose extra em bebês ocorre para assegurar que haja alguma proteção para esse grupo, que estava fora do calendário vacinal.
“Estamos dando prioridade às crianças porque são mais vulneráveis”, afirma. Ele reforça que a efetividade da vacina é maior para aqueles que tiveram todas as doses recomendadas.
O ministério busca também reforçar os estoques de vacina contra o sarampo. O objetivo é adquirir, junto à Organização Pan-americana de Saúde, 18 milhões de doses, que poderão ser usadas ainda neste ano e em 2020.
Questionado, Oliveira nega que haja falta de vacinas. Segundo ele, a pasta deve receber outras doses do laboratório Biomanguinhos, da Fiocruz, para serem utilizadas na campanha de multivacinação, prevista para outubro.
Segundo ele, a pasta deve avaliar a possibilidade de ações específicas para adultos jovens em alguns locais. Ele descarta a possibilidade de fazer uma campanha para essa faixa etária em todo o país. Entre os fatores que levam à decisão está a menor adesão desse grupo à vacinação e a falta de doses suficientes.
Após ter sido considerado eliminado no país, o sarampo voltou a registrar casos em 2018, inicialmente em Roraima e no Amazonas. O impulso para o retorno da doença foi a entrada de casos importados e a baixa cobertura vacinal. A situação fez o país perder o certificado de país livre da doença, o qual havia sido entregue pela Opas em 2016.
Apesar de terem registrado casos neste ano, Amazonas, Pará e Roraima conseguiram interromper a transmissão e, por isso, não constam no balanço atual. Já os estados com status de “surto ativo” são aqueles que tiveram casos nos últimos 90 dias.
Nos últimos anos, surtos da doença têm ocorrido em outros países, o que eleva o alerta. Na Europa, por exemplo, são 49 países afetados. “Enquanto tivermos esses números na Europa e na África, casos importados vão continuar aparecendo. Temos que aumentar a cobertura vacinal”, diz o secretário.