A possível transferência de chefes do PCC de uma penitenciária estadual do interior de São Paulo para presídios federais, devido à descoberta de um plano de resgate de chefões da facção criminosa, provocou uma divisão entre integrantes das forças de combate ao crime organizado.
Há uma tensão entre grupos que defendem remanejar presos para fora do estado com aqueles que são contra essa medida por temerem represálias do crime, já que no topo desta lista estaria o criminoso considerado pela polícia como o número um da facção, Marco Camacho, o Marcola.
O estudo da remoção de 15 presos pertencentes ao PCC começou a ser feito no mês passado, quando a inteligência do governo Márcio França (PSB) detectou um possível plano de resgate de Marcola e de outros comparsas dele, todos confinados na penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
O secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, que sempre se manifestou contrário à transferência dos chefões do PCC para presídios federais, concordou inicialmente em pedir à Justiça para transferir os presos, segundo a reportagem apurou. Em seguida, porém, acabou demovido dessa intenção.
O recuo, que teria aval do secretário da Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, contrariou o desejo de integrantes do Ministério Público e da Polícia Militar, que querem a transferência imediata dos presos em razão do grande esforço e recursos empregados pela PM para evitar as tentativas de resgate.
O plano descoberto no mês passado seria apenas um de uma série já descoberta pelos serviços de inteligência do governo paulista, que também demandou ações de força.
Para o grupo que defende a transferência, o pedido se tornou premente porque há possibilidade real de uma ação criminosa para o arrebatamento de presos, tanto é verdade, afirmam, que o governo paulista enviou um efetivo jamais visto em Presidente Venceslau, incluindo quase todo o efetivo da Rota e COE (operações especiais), além do uso de armas de guerra emprestadas pelo Exército.
Os defensores da transferência de Marcola argumentam ainda que, além de ser muito custoso para os cofres do estado manter um efetivo tão grande no interior, também há o risco de desmoralização histórica das forças de segurança caso o plano dos criminosos, mesmo com tal aparato, dê certo.
Marcola está preso em São Paulo há quase 20 anos e continua cumprindo uma pena superior a 300 anos, por uma série de roubos, além de crimes ligados ao comando do PCC.
Integrantes do grupo que são contrários à transferência defendem que mandar os criminosos do PCC para presídios federais demonstraria uma fragilidade de São Paulo e dificuldades de resolver um problema com origem nos próprios presídios paulistas.
Esse grupo também vê risco de essa transferência desencadear outra megarrebelião, como a ocorrida no início dos anos 2000, e ataques às forças de segurança, como em 2006. Seria uma decisão complicada e, assim, melhor deixá-la para ser resolvida por João Doria (PSDB) no início de 2019.
Na semana passada, o governador Márcio França disse à reportagem que não havia falado sobre transferência de Marcola com os secretários da Segurança e da Administração Penitenciária, mas que o faria.
Na tarde desta terça (6), França se reuniu com os dois, mas o teor do assunto não foi divulgado. Segundo a reportagem apurou, eles teriam decidido não pedir a transferência por enquanto.
Também nesta terça, o deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSL) encaminhou ofício ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio, para que ele peça as transferências do chefes do PCC. “Para que haja desarticulação da ação idealizada, enfraquecimento do crime organizado e preservação de vidas.”
Também foi o parlamentar que enviou ao governador e aos comandos do Exército e Aeronáutica detalhes do suposto plano de resgate de chefões do PCC, que inclui até um exército de mercenários.