Após a morte de três pessoas e a hospitalização de outras três da mesma família em Torres, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, análises laboratoriais apontaram a presença de arsênio no sangue de algumas vítimas. A substância tóxica é investigada como possível causa do envenenamento que resultou no trágico episódio.
O que é arsênio?
O arsênio (As) é um elemento químico de número atômico 33, classificado como um semimetal. Ele é amplamente encontrado na natureza, seja em fontes naturais, como erupções vulcânicas e poeiras minerais, ou por atividades humanas, como mineração, uso de agrotóxicos e queima de carvão.
Embora tenha aplicações industriais e médicas, o arsênio é conhecido por sua toxicidade. Em compostos inorgânicos, como o trióxido de arsênio, é altamente prejudicial à saúde humana e pode ser letal em doses elevadas.
Como o arsênio afeta o corpo?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o arsênio está entre as 10 substâncias químicas mais preocupantes para a saúde pública. A exposição a altos níveis de arsênio inorgânico pode causar intoxicação alimentar, danos ao sistema nervoso, câncer e, em casos graves, morte.
O arsênio em sua forma natural é insípido, inodoro e muitas vezes difícil de detectar, o que contribui para seu uso em casos de envenenamento deliberado. Em doses letais, como a partir de 100 miligramas, pode causar parada cardiorrespiratória, como aconteceu com duas vítimas do caso em Torres.
Possíveis fontes de exposição
A exposição ao arsênio inorgânico pode ocorrer por:
- Consumo de água contaminada;
- Consumo de alimentos preparados com água ou ingredientes contaminados;
- Ingestão acidental ou proposital de compostos como pesticidas e agrotóxicos.
No caso de Torres, a polícia ainda investiga se o arsênio presente no sangue das vítimas foi resultado de envenenamento proposital ou de contaminação acidental, possivelmente relacionada a alimentos vencidos.
Riscos e usos controlados
Embora tóxico, o arsênio tem usos controlados, como em tratamentos médicos para leucemia promielocítica aguda, onde é comercializado como Trisenox. No entanto, mesmo em doses terapêuticas, o manejo requer extremo cuidado para evitar intoxicação.
Como foi o caso
A morte de três pessoas da mesma família após o consumo de um bolo durante uma confraternização de Natal está sendo investigada pela Polícia Civil em Torres, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Outras duas pessoas continuam internadas em estado estável, enquanto uma já recebeu alta médica.
O caso ocorreu na última segunda-feira (23), quando sete familiares se reuniram para celebrar a data. Após ingerirem o bolo, preparado por uma das participantes, cinco pessoas começaram a passar mal e precisaram de atendimento médico. Três delas não resistiram: a professora aposentada Maida Flores da Silva, de 58 anos, sua irmã Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Santos, de 43 anos.
De acordo com a polícia, Maida foi a primeira a falecer, seguida por Tatiana e Neuza, que morreram com poucas horas de intervalo no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres. Ambas as mortes foram atribuídas a parada cardiorrespiratória e choque decorrente de intoxicação alimentar, segundo o laudo preliminar.
Tradição familiar interrompida
De acordo com Denise Teixeira Gomes, amiga das vítimas, o bolo fazia parte da tradição familiar em festividades de fim de ano. “Era um bolo de reis que elas faziam sempre, sempre, sempre. Este ano, foram feitos dois, mas o problema ocorreu com o preparado por uma das irmãs”, afirmou a comerciante.
Os corpos das vítimas foram velados em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, onde a família residia até maio, antes de se mudar para o litoral devido às enchentes. A comunidade local está abalada com a tragédia, que interrompeu um momento de celebração familiar.
As investigações seguem em andamento, com exames laboratoriais e análise dos materiais recolhidos. A expectativa é que os resultados esclareçam a causa do incidente e, se necessário, responsabilizem possíveis culpados.
Investigação apura causas
A Polícia Civil trabalha com duas linhas de investigação: intoxicação alimentar ou envenenamento. Durante a perícia no local, foram encontrados alimentos vencidos, como uma maionese expirada há mais de um ano, além de um frasco de remédio contendo um líquido branco, que será submetido a análise. Também foram recolhidos para perícia o bolo, os utensílios usados no preparo e outros alimentos consumidos na confraternização.
Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, o ex-marido da mulher que fez o bolo morreu em setembro, supostamente por intoxicação alimentar. O caso não havia sido investigado, mas, diante das circunstâncias, a polícia solicitou a exumação do corpo para verificar se há conexão entre os episódios.