A onda de incêndios que atingiu o interior de São Paulo neste final de semana agravou ainda mais a crise nas lavouras de cana-de-açúcar, que já estavam sendo duramente impactadas pela seca desde abril. O fogo não só destruiu a cana pronta para a colheita, como também queimou as rebrotas, essenciais para a produção das próximas safras.
Esses prejuízos estão gerando grande preocupação entre os produtores, que agora enfrentarão custos adicionais para replantar as lavouras. Além disso, a produtividade — ou seja, a quantidade de cana colhida por área — deve cair significativamente. “Queimar cana é queimar dinheiro”, afirmou José Guilherme Nogueira, CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), destacando o impacto financeiro desse desastre.
A seca, que deve continuar até setembro, já reduziu as estimativas de colheita em São Paulo, o maior produtor de cana do país. A previsão inicial de 420 milhões de toneladas foi revisada para 370 milhões, uma queda de 12%. O analista Maurício Muruci, da Safras e Mercados, explica que a falta de chuvas nos canaviais desde abril já estava afetando a produção, e os incêndios só pioraram a situação.
No último final de semana, mais de 2 mil focos de incêndio foram registrados, queimando cerca de 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em 59 mil hectares, o que representa 1,5% da produção total do estado. Embora pareça um percentual pequeno, o impacto é significativo porque o fogo também destruiu as rebrotas, que garantiriam as futuras colheitas.
Além dos danos nas lavouras, os incêndios aumentam a pressão sobre os produtores, que precisam colher a cana queimada rapidamente. Se não for colhida em poucos dias, a cana corre o risco de ser atacada por fungos e bactérias, o que inviabiliza sua utilização para a produção de açúcar e etanol. “O problema é que não há máquinas suficientes para colher tudo de uma vez”, ressalta Nogueira.
As consequências dos incêndios já são sentidas no mercado. Na segunda-feira (26), os contratos futuros do açúcar bruto na bolsa de Nova Iorque subiram 3,5%, refletindo as preocupações com as perdas no Brasil, o maior produtor mundial de cana. Além disso, o preço do etanol também deve subir nas próximas semanas, à medida que a cana queimada comece a ser processada.
O cenário também trouxe grandes prejuízos para outras áreas da agricultura e pecuária em São Paulo. Estima-se que o fogo tenha causado perdas de R$ 1 bilhão, afetando 3.837 propriedades rurais em 144 municípios. Além da cana, plantações de frutas e seringueiras foram devastadas, e animais de criação, como bois e vacas, também foram vítimas das chamas.
Apesar dos esforços do setor, como o Protocolo Agroambiental – Etanol Mais Verde, que proíbe a queima da palha para facilitar a colheita, os incêndios continuam sendo um desafio. “Infelizmente, 70% dos incêndios nas plantações de cana são causados por pessoas”, explica Nogueira, apontando que muitas vezes o fogo se espalha a partir de bitucas de cigarro jogadas nas estradas ou de queimadas feitas para limpeza de terrenos. Para combater essas situações, produtores e usinas têm trabalhado em conjunto com o Corpo de Bombeiros em planos de auxílio mútuo.