Há 10 dias da última chuva significativa, os reservatórios das usinas hidrelétricas da região estão com apenas a metade da capacidade de armazenamento. O de Ilha Solteira (SP) está com 53,27% da capacidade. Em março, chegou a 74%, caiu para 52% em abril, mas voltou a subir e chegou a 72% em julho. Agora, acumula perdas.
O reservatório da usina de Três Irmãos, em Pereira Barreto (SP), está com 54,80% da capacidade também. O nível mais baixo do reservatório registrado neste ano foi em abril, com 54%.
Segundo a Unesp de Ilha Solteira, as chuvas ainda não são suficientes para encher os reservatórios e, para isso, é preciso chuvas por mais dias seguidos. A última chuva considerável, com mais de 10 milímetros, foi no dia 27 de outubro.
A situação preocupante dos reservatórios das hidrelétricas dos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste vai obrigar o Operador Nacional do Sistema (ONS) a elevar este ano o uso de usinas termelétricas acima do registrado em outubro do ano passado, podendo chegar aos 16 mil megawatts/dia, acima do patamar de 14 mil MW/dia de 2019, para fazer frente ao aumento do consumo trazido pela recuperação econômica e pelo aumento da temperatura, informou o diretor-geral do Operador, Luiz Ciocchi, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
Às vésperas de completar seis meses no cargo, Ciocchi assumiu o complexo posto de operador do sistema em plena pandemia, o que o impediu de conhecer pessoalmente seus funcionários, que desde março trabalham em home office, com apenas 5% do efetivo no campo de batalha das mesas de operação.
“Muito provavelmente este outubro foi um dos outubros mais secos de toda a história, desde 1931, quando começou a série histórica. É o mais seco da Região Sul e o terceiro mais seco na Região Sudeste”, afirmou o executivo, contando, porém, com as previsões de chuvas intensas nos reservatórios das hidrelétricas em meados de novembro.
Termoelétricas
Para poupar os reservatórios nessas regiões, o ONS tem acionado usinas termelétricas, mais caras para o consumidor. “A gente vinha despachando bem menos as térmicas do que no ano passado, em setembro era algo como 7, 8, 9 mil MW. A partir do fim de outubro a gente voltou ao patamar de 14 mil MW, como no ano passado , e a expectativa é que a gente consiga poupar um pouco essa água dos reservatórios subindo esse despacho”, explicou.
A maior preocupação é com o Sul, mas no Sudeste a bacia do Rio Grande, que abastece Furnas, também inspira cuidados.
Também as intensas queimadas deste ano têm sido um grande desafio, apesar de não ter sido registrado nenhum grande acidente na rede. “Calor acima de 30 graus e umidade abaixo de 30% é a combinação ideal para você ter queimadas que atingem as linhas de transmissão. Problemas tivemos vários, mas nenhuma ocorrência grave”, disse.
Expectativas
Segundo Ciocchi, em meados de novembro esse cenário deve mudar e a previsão é de um fim de ano mais favorável sob o ponto de vista hídrico, mesmo se houver uma aceleração da recuperação econômica, como sinalizam alguns indicadores.
Com a economia crescendo, ele prevê que no início do próximo ano os leilões do mercado regulado devem voltar, para entrega de energia em 2021, 2022 ou 2023, depois de terem sido suspensos este ano por falta de demanda das distribuidoras.
“Do ponto de vista de abastecimento de energia, podem ficar tranquilos, a gente tem os recursos, mesmo com a retomada econômica. São recursos mais caros, das termelétricas, mas dá para aguentar bastante tempo, não tem nenhuma sinalização preocupante no horizonte. A preocupação é com a água”, avalia. (Com informações da Agência Estado).