A técnica de enfermagem Juliana Aparecida da Silva Garbin, 35 anos, foi recebida com festa ao chegar ao trabalho nessa quinta-feira (7), na Unidade Básica de Saúde do Umuarama, em Araçatuba, após 28 dias afastada por ter sido contaminada pelo novo coronavírus. Neste período, enfrentou uma grande batalha pela vida até a cura.
Profissional da área de saúde há 16 anos, Juliana está mais do que acostumada a lidar com pessoas doentes e até com a morte de pacientes. Mas não acreditava que teria Covid-19 porque tomou todos os cuidados de prevenção. Só saía de casa para trabalhar, usou máscara o tempo todo, além de luva, touca cirúrgica e todos os itens de proteção disponíveis.
Os primeiros sintomas começaram com dor nas costas, como se fosse um problema postural. Como ela também trabalha no pronto-socorro municipal de Birigui, pediu um raio X para um médico, que a diagnosticou com pneumonia. Quarenta e oito horas depois, seus dois pulmões estavam tomados. Ao fazer o teste, o resultado deu positivo para Covid-19.
“Quando a gente sente na pele, é desesperador. Tive medo de morrer o tempo todo”, contou. Ela relatou, ainda, que tem uma filha de nove anos e não a vê há dois meses, pois ela tem problema respiratório e assim que surgiram os primeiros casos na região, a levou para o sítio de sua família.
Juliana teve duas internações por desconforto respiratório. Na primeira vez, ficou no pronto-socorro de Birigui para observação. O médico a liberou, mas, no dia seguinte, voltou com muito desconforto e dor nas costas e teve de ficar três dias hospitalizada, mas não chegou a precisar de ventilação mecânica.
PSICOLÓGICO
A parte mais difícil foi ficar sozinha durante 28 dias. “Esta doença afeta muito o psicológico e graças a Deus tem uma equipe de profissionais, de médicos, auxiliares e técnicos de enfermagem que trabalham comigo e me ajudaram muito psicologicamente. Quando eu precisava conversar, eu ligava para eles e sempre ouvia a palavra certa”, disse.
As compras no supermercado eram feitas por um colega de trabalho, que deixava os produtos em sua casa, mas não mantinha contato direto com ela.
Juliana contou, ainda, que no décimo segundo dia após o início dos sintomas, perdeu o olfato e o paladar, além de mal-estar e falta de apetite. Ela também disse que sua pressão e glicemia subiram, apesar de não ser diabética. “Minha glicemia chegou a 278, a gente tem um descontrole metabólico”. Ela também inchou um pouco o rosto, a mãe e os membros inferiores.
Seu tratamento incluiu medicamentos como cloroquina, tamiflu e azitromicina. A única parte do corpo que ainda está um pouco comprometida é a pulmonar, que leva um tempo para se recuperar.
HOMENAGEM
Sobre a homenagem que recebeu dos colegas de trabalho, ela disse que foi gratificante. “Não há dinheiro que pague, não há prêmio que pague ver todo mundo torcendo por você. Foi o melhor sentimento depois de ter sido mãe, chorei muito”.
Após se recuperar da Covid-19, Juliana agora quer valorizar ainda mais cada profissional que está trabalhando em sua equipe. “Eles foram o alicerce para que eu pudesse me recuperar”. Ela também pretende praticar esporte, cuidar da saúde e viajar muito.
RECADO
Como profissional da área de saúde, ela afirma que a maior parte da população vai pegar. “Só que se a gente ficar em casa e usar máscara, vai ter um bloqueio da contaminação”, afirmou.
Ela também envia um recado à população: “Fiquem em casa e só saiam se for muito necessário, mas não se esqueçam de usar máscara. E podem acreditar, o vírus existe e pode matar”, disse. “Graças a Deus, não entrei para as estatísticas”, referindo-se aos mais de 3 mil óbitos no Estado de São Paulo.