(Folha da Região) Um dos vários segmentos afetados pela quarentena imposta pelo governo do Estado para conter o avanço da pandemia da covid-19 (coronavírus) é o do setor alimentício.
Sem movimento no comércio e dependendo apenas do movimento delivery os estabelecimentos vêm sofrendo com a queda de faturamento mesmo se adequando a esta nova realidade que não sabem o quanto tempo poderá durar.
De acordo com a gerente administrativa do restaurante San Rafael Grill, Roberta Ramos, cujo proprietário está no ramo há quatro décadas, a empresa passou por readequação, incluindo o cardápio, para poder facilitar o atendimento delivery.
Antes da quarentena o sistema delivery, em média, representava 35% do faturamento. Atualmente, de acordo com a gerente, o faturamento total está em torno de 70% abaixo da média registrada em outros períodos.
Entre as mudanças, além do cardápio, a empresa aumentou o quadro de entregadores. A estrutura principal foi mantida, mas de acordo com Roberta, se a situação não se reverter, a empresa terá de fazer uma redução no quadro de funcionários para se enquadrar na atual circunstância.
O proprietário do restaurante Cupim na Telha, localizado no centro de Araçatuba, Paulo Cesar de Andrade, disse que o estabelecimento tinha muito movimento em função de pessoas que vão até o centro comercial, como funcionários ou consumidores.
Ele implantou o sistema delivery após a imposição da quarentena, mas disse que o movimento não está cobrindo o custo operacional. Ele empregava oito pessoas e teve de demitir metade do quadro de funcionários, sendo que, se a situação não se reverter, a única opção para ele será fechar o negócio, porque não está mais conseguindo “pagar para trabalhar”.
O gerente do Restaurante Barracão, existente há duas décadas em Araçatuba, Raphael Fernandes de Souza, disse que o movimento, com delivery, durante os finais de semana está bom. No entanto, durante a semana o movimento caiu bastante apenas com o delivery, em torno de 75%. Para evitar demissões, que ainda não estão descartadas, ele fez alguns acordos com funcionários.
PESQUISA
Uma pesquisa com empresários ouvidos pela Abrasel (Associação de Bares e Restaurantes) SP revelou que 40% dos bares e restaurantes de São Paulo podem fechar as portas em definitivo até o término da crise provocada pelo novo coronavírus, estimam.
A entidade realizou uma enquete online em que 125 associados, que representam 375 estabelecimentos do estado, responderam sobre a permanência dos negócios após a pandemia de Covid 19. A maioria deles, cerca de 70%, respondeu que prevê o fechamento de 40% dos bares e restaurantes após a crise.
A projeção é baseada em uma enquete, portanto não tem números definitivos e caráter científico. A expectativa de Percival Neto, presidente da Abrasel SP, é que 900 mil empregos tenham sido extintos do setor no país. O número é semelhante ao da ANR (Associação Nacional de Restaurantes), que projetou 1 milhão de cortes. “O passivo só cresce, e as pessoas estão preocupadas em equacionar as contas.
Além da dificuldade atual com a pandemia e o isolamento, restaurantes estão com receio do período posterior, o da recessão”, diz Percival. A maioria das empresas, segundo ele, está adotando as medidas anunciadas pelo governo federal para segurar empregos, com corte de salários e redução de jornadas. Há muitos que realocam equipes para dar conta do delivery.
Para 59% dos entrevistados, entretanto, o auxílio não foi suficiente. Para 35%, foi, mas o processo travou pelo atraso e pela dificuldade de acesso a crédito nos bancos. Dentre os entrevistados, 61% defendem o isolamento social e que a volta da atividade econômica ocorra de modo gradual e seguro. Outros 20% defendem isolamento total e 14%, a reabertura. A quarentena em São Paulo vai até 10 de maio, pelo menos, para todos os municípios do estado.
Fica proibida até lá a abertura de restaurantes, que só podem operar por delivery. Os restaurantes se preparam para o retorno com protocolos sanitários diferentes, já que “o novo normal” do comércio gastronômico deve incluir distanciamento de 1,5 metro entre mesas, rotinas acentuadas de higienização, uso de máscara por empregados e pela clientela.
Outra pesquisa do setor, divulgada no dia 17 de abril pela ANR (Associação Nacional de Restaurantes), diz que 76,11% dos bares e restaurantes já demitiram funcionários durante a pandemia no Brasil.
O total de desligamentos chegaria a 1 milhão. A ANR questionou os associados sobre a manutenção dos negócios depois da crise do novo coronavírus. As respostas foram mais otimistas em relação à pesquisa da Abrasel SP: 78,57% disseram que poderão manter o negócio aberto, enquanto 21,43% afirmaram que não deverão reabrir.
A ANR representa mais de 9 mil pontos comerciais do país, entre redes, franquias e restaurantes independentes. Antes da crise, o setor empregava cerca de 6 milhões de trabalhadores.