Danton Leonel de Camargo Bini*
Nos períodos de crise dos ciclos econômicos, os gastos com alimentação são os últimos a serem reduzidos com a queda dos orçamentos das famílias. De 2008 a 2014, quando o Brasil vivenciou a primeira fase do declínio que assola a economia nacional, bens duráveis e lazer foram os itens que apresentaram os maiores cortes nos gastos da população. Deixou-se de trocar o carro, fazer a viagem dos sonhos, mas mantiveram-se hábitos tradicionais como o churrasco de final de semana entre familiares e amigos. De 2014 a 2018, com a escalada do desemprego, aprofundou-se a diminuição da capacidade de compra das pessoas e o setor alimentício passa a sentir um desequilíbrio entre a oferta e a procura, situação que resultou num desaquecimento da produção e um consequente aumento da ociosidade das agroindústrias.
Para a maioria do povo brasileiro, a realidade tem sido perversa. Com uma queda da inflação originada por pressões de demanda, alcançada pela falta de renda, vivemos numa conjuntura na qual 40 milhões de brasileiros estão desempregados ou subempregados e mais da metade da população passou a viver com 413 reais por mês, segundo o IBGE. Somada a esse momento de carestia, parte da classe média, não tendo seus salários reajustados há quase uma década, mesmo com a inflação estando baixa, tem perdido poder de compra em seus rendimentos.
Não bastasse toda essa tragédia, o governo brasileiro tem tomado medidas que tem dificultado a reativação da economia num patamar que reaqueça ao menos a capacidade da população se alimentar com dignidade. Num redirecionamento da política externa acertado que reaproxima nossos fluxos de produção ao mercado chinês nesse período de guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais, a diplomacia brasileira não pesou a mão ao sacrificar a demanda interna que causará um efeito cascata no reajuste dos preços das carnes disponíveis ao mercado nacional.
Numa conjuntura que possibilite a abertura de mercado de nossos produtos no exterior, não poderíamos aceitar a realização de negócios que desabastecesse os açougues e mercados levando os preços das carnes às alturas. Com esse procedimento, somente uma fatia pequena do mercado nacional está ganhando: destes, principalmente os frigoríficos exportadores.
Para resolver esse problema de forma imediata, o patriotismo de Bolsonaro deveria atingir todos os brasileiros. Para que a carne fique no país em quantidade suficiente para abastecer o consumo em nossa nação, há de se criar uma sobretaxa à exportação de carne bovina, orientando o montante arrecadado para a modernização da pecuária brasileira. Enquanto isso se amadurece, restará para aqueles acostumados com o churrasquinho no final de semana aumentar a porção das outras carnes no cardápio. O imbróglio maior ocorrerá se a maior procura por frangos e suínos na alimentação diária das famílias brasileiras não ser acompanhada pelo aumento de suas produções nos ciclos produtivos vindouros, o que acarretará no aumento de seus preços, refletindo no aquecimento da procura por ovos.
* Danton Leonel de Camargo Bini é pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola IEA (Instituto de Economia Agrícola) e doutor em Geografia Humana.