O aposentado S.F.C., de 45 anos, detido na tarde deste sábado sob acusação de estupro, cárcere privado, ameaça, injúria e violência doméstica vai aguardar o processo em prisão domiciliar. A reportagem do Regional Press entrevistou a mulher que fez as acusações, inclusive com apresentação de vídeo à polícia, horas antes dela fugir de Araçatuba com as duas filhas, neste domingo. O acusado, que já sofreu dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral), faz tratamento de fisioterapia e toma muitos medicamentos. Ele é padrasto da menina a qual a mãe diz ser vítima de estupro.
A equipe do Regional Press encontrou a mulher, uma diarista de 41 anos, na casa de uma amiga dela. As duas filhas ficaram em um dos quartos, para não ouvir detalhes do relato. A adolescente abusada é filha dela e enteada do acusado. Já a menina mais nova, de 13 anos, é filha do casal, que mora junto há 14 anos.
A diarista contou que tinha um casal de filhos, o jovem hoje com 20 anos e a menina de 16, quando em 2004 conheceu o acusado, no litoral sul paulista, onde ele morava e trabalhava com mecânico. A família do acusado é de Araçatuba e na mudou para o litoral por conta do serviço da mãe dele, funcionária pública.
Na época o homem assumiu o casal de filhos da diarista, e ambos tiveram mais uma filha. Ela conta que o marido tinha envolvimento com o tráfico e era usuário de drogas. No entanto, nunca conseguiu se separar, porque toda vez que tentava ir embora de casa ele ia atrás e forçava a volta no relacionamento.
A mulher disse que há quatro anos não se relacionava mais sexualmente com o marido. De acordo com ela, alguns parentes chegaram a suspeitar que ele poderia estar abusando da enteada, mas ela nunca desconfiou, mesmo porque a menina não falava nada.
No primeiro semestre deste ano o homem teve dois AVCs em menos de um mês, e ficou com graves sequelas. A mulher, já não aguentando mais cuidar dele sozinha, inclusive por conta das grosserias, mesmo estando acamado, pediu ajuda para a sogra e ambos vieram do litoral para Araçatuba, onde há quatro meses estavam morando em uma chácara.
Segundo ela, quando o marido saia ele trancava tudo na chácara e ela era proibida de sair sozinha. “Eu só saia com a mãe dele. O estranho é que ele sempre queria sair levando minha filha, até para ir na fisioterapia”, relatou.
Já desconfiada, ela colocou um telefone celular escondido no banheiro, e para sua surpresas, acabou gravando parte dos abusos. No celular, ficou registrada imagem do acusado tentando beijar a enteada no banheiro, além de esfregar as mãos nas partes íntimas da menina. Temendo que as imagens fossem apagadas, ela enviou para o filho. O telefone, quando ela mostrou ao marido as gravações, foi quebrado. Como ela teve a precaução de enviar o vídeo ao filho, a gravação ficou registrada no aplicativo e no celular do rapaz. Em conversa com a menina, ela relatou e partes os abusos sofridos e disse que isso acontecia desde os 12 anos de idade.
Diante dos fatos, a mulher decidiu planejar a fuga de Araçatuba. Para isso contou com a ajuda de uma conhecida da família, que se prontificou a dar um apoio. Combinara de sair e levar as crianças para passear, mas essa seria uma saída sem volta.
Quando o homem saiu da chácara, ela pegou os pertences, as duas filhas e saiu com a amiga da família. O destino já estava planejado. No entanto, quando ele retornou a chácara, viu que os pertences da mulher não estavam mais no local, como escovas de cabelo, roupas e pertences das crianças.
O homem, que não pode dirigir devido a dificuldade física que tem como sequela do AVC, pegou um Uber e foi até a casa da amiga da família. Impedido de entrar, começou a fazer ameaças em frente à casa, no Jardim Brasil.
A Polícia militar foi acionada e a mulher acabou contando toda a história. Todos foram ao plantão policial. O mecânico foi detido e encaminhado a audiência de custódia, onde, na manhã deste domingo, a Justiça determinou que ele cumpra prisão domiciliar enquanto aguarda julgamento do processo.
A diarista contou que teve acesso ao depoimento da filha e ficou chocada com os relatos da menina, que nunca contou nada temendo as ameaças e também por vergonha da mãe. A menina, segundo a mulher, sofria vários tipos de abuso, incluindo relações sexuais de todas as formas.
“Eu me sinto muito culpada. Me sinto culpada por não ter percebido nada disso antes. Por não ter me atentado quando parentes me falaram que ela poderia estar sofrendo abuso. Eu sou culpada”, lamentou a diarista, aos prantos. Ainda neste domingo, após a entrevista, ela iria deixar a cidade com as filhas, temendo pela vida de ambas, já que o homem não está na cadeia. A menina passou por exame no IML e também por atendimento médico no pronto-socorro. Agora a mulher quer recomeçar a vida longe do, agora, ex-companheiro.