Sete suspeitos de participação em um ritual satânico que terminou com a morte de duas crianças, em Novo Hamburgo (RS), conforme aponta a Polícia Civil, estão com prisão preventiva decretada.
Quatro já estão presos, incluindo o líder de um templo, e outros três são considerados foragidos. A investigação começou após duas crianças terem sido encontradas mortas em um bairro da cidade do Vale do Sinos, em setembro do ano passado. As prisões foram decretadas nesta segunda-feira (8).
Um dos foragidos é argentino. De acordo com o delegado Moacir Fermino, ele tem amigos no Rio Grande do Sul e teria raptado as crianças – que seriam irmãs – no país vizinho em troca de um caminhão roubado. A polícia está em contato com as autoridades estrangeiras em busca de um DNA compatível com os dos corpos.
“Bancos de dados argentinos estão sendo checados para ver se os DNAs das crianças são encontrados. Ofícios já foram enviados a autoridades do país vizinho. Também será verificado se o argentino tem parentesco com os irmãos”, completa o delegado.
“Devem ter outras [vítimas de ritual satânico]. Estamos investigando. Isso rende muito dinheiro para eles”, acrescenta Fermino. O delegado já havia informado que o ritual custou R$ 25 mil, e foi encomendado por sócios que queriam “prosperidade no desenvolvimento em negócios imobiliários e na compra e venda de carros.”
Os sete acusados:
Silvio Fernandes Rodrigues, bruxo que fez o ritual;
Jair da Silva, sócio que encomendou o ritual;
Andrei Jorge da Silva, um dos filhos de Jair;
Márcio Miranda Brustolin, o sétimo integrante do ritual. Conforme o delegado, seriam necessárias sete pessoas;
Jorge Adrian Alves, argentino que fez a troca do caminhão roubado pelas crianças no país vizinho;
Anderson da Silva, outro filho do sócio que encomendou o ritual;
Paulo Ademir Norbert da Silva, outro sócio do ramo imobiliário.
Segundo o delegado, os suspeitos negam envolvimento nas mortes e dizem não conhecer o bruxo. No entanto, ele afirma que uma das testemunhas pode ser incluída na lista de pessoas protegidas, em razão de ameaças que passou a sofrer. “Está correndo risco de vida”, afirma.
“O bruxo e os outros presos dizem que não se conhecem, mas temos provas contundentes tanto no papel quanto de testemunhas, de que se conheciam, e também do ritual, com todos ajoelhados. O bruxo falava uma língua estranha, nós acreditamos que seja aramaico”, diz o delegado.
Conforme a investigação, o ritual para conseguir a prosperidade no ramo imobiliário, encomendado pelos sócios, envolve sacrifício, e foi cercado da simbologia do número sete. “Tudo leva a crer que no templo foi comida carne e tomado sangue”, conta Fermino. “Um horrendo, cruel e bárbaro crime.”
Quando a polícia fez a operação, incluindo a ida ao templo, que fica em uma cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, foi encontrada uma capa e uma máscara que eram usadas nos rituais (foto abaixo). O material estava dentro de um cofre. As apreensões e primeiras prisões ocorreram no fim de dezembro.
Ainda conforme o delegado, o ritual foi iniciado com um dos sócios, que era evangélico. Ali, ele teria derramado sangue em uma bíblia. “Temos várias bíblias que serão analisadas”, disse.
A perícia apontou, conforme o delegado, que no corpo do menino “há comprovação de dosagem altíssima de álcool”. A menina tinha marcas de perfuração de faca em um membro que foi localizado.
Fermino afirma que uma testemunha relatou que viu o menino amarrado em um pedestal, e que a menina estava deitada no chão, em um ambiente escuro, iluminado apenas por velas, com os discípulos ajoelhados ao redor. Para a polícia, as crianças teriam sido decapitadas por meio de torniquetes.